quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Seca do Quinze": 100 anos da maior catástrofe no Nordeste

Por: Vera Cavalcante
O ano de 2015 marca os cem anos da maior seca que o Nordeste brasileiro já sofreu, segundo especialistas. O ano de 1915, que inspirou a escritora cearense Rachel de Queiroz a escrever o romance "O Quinze", foi devastado por uma forte estiagem, que culminou na morte de muitas pessoas e dizimou milhares de animais. Segundo historiadores campos de concentração foram criados para conter a população, que faminta tentava invadir as capitais e grandes cidades no Ceará. 

Programas sociais do governo foram criados, mas eram insuficientes para tamanha demanda. Além disso a qualidade da comida distribuída nos chamados "bolsões" era de péssima qualidade. As chamadas Frentes de Emergência empregavam trabalhadores, que trabalhavam sob os olhares de soldados. A devastação ocasionada por àquela seca causou um prejuízo imenso à população, que talvez jamais tenhamos dados concretos a respeito de tamanha tragédia. 

Lembro quando pequena ouvia meus avós e pais contarem que naquela seca e outras que vieram depois, a população pobre sem recurso nenhum, era obrigada a comer couro de bois, chinelos e até mala assada, nome este que inspirou posteriormente uma comida tipicamente cearense à base de ovos e farinha, mas em 1915 não tinha ovos nem farinha, o ingrediente da "mala assada" era exatamente a mala de viajem feita de couro de bois e madeira, que serviu também para auxiliar os sertanejos nas longas viagens rumo a lugares melhores, lugares estes que só existiam na imaginação daqueles sertanejos sonhadores, mas não em local algum deste imenso Nordeste brasileiro. 

Rumores há de uma profecia que diz que a cada cem anos o Nordeste brasileiro enfrentará uma seca como aquela. Será que a profecia irá se cumprir? Segundo relatório divulgado no último dia 20 pela  FUNCEME(Fundação Cearense de Meteorologia), o ano de 2015 será de pouquíssimas chuvas, com probabilidade de 9% de uma quadra invernosa regular. Ainda segundo a FUNCEME teremos, caso o prognóstico se confirme, porque a esperança é a última que morre, o quarto ano consecutivo de secas.

O que temos certeza é que graças ao bom Deus e as políticas públicas de recursos hídricos e fomento, os cearenses não sofrerão tanto como aconteceu há cem anos atrás. É certo que muito precisa ser feito, mas pelo menos existe um paliativo, que em 1915 era apenas um sonho. 


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