quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Quando políticas públicas reforçam a agricultura familiar, a fome e a miséria são vencidas, diz a FAO

Um dos segredos da efetividade das políticas públicas está na articulação entre governo e sociedade civil organizada. No Semiárido, que concentra grande parte das pessoas que vivem na linha da miséria, essa articulação sustenta programas como o Cisternas nas Escolas

Este ano, o tema do Dia Mundial da Alimentação é “Proteção social e agricultura: quebrando o ciclo da pobreza rural”. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 70% da população mundial – a maioria nas zonas rurais – não têm acesso à medidas de proteção social adequadas. “Por esta razão, a FAO tem intensificado seus esforços para ajudar os governos e seus associados a incorporar a proteção social nas estratégias e políticas nacionais de desenvolvimento”, diz um trecho do site da FAO. Para as Nações Unidas há uma relação direta entre essas medidas e o nascimento de um ambiente propício à segurança alimentar e nutricional em espaços locais.


No Brasil, essa relação vem se concretizando nos últimos 12 anos. Devido a um conjunto de políticas públicas, como o Bolsa Família, Água para Todos, Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o país atingiu o maior índice de redução da miséria. De 1990 para 2012, o índice mundial de pobreza extrema caiu de 47% para 22% (13 pontos percentuais). Já o Brasil, passou de 25,5% para 3,5% (22 pontos percentuais), tornando-se referência em relação ao assunto.
Como mais da metade (59,1%) dos brasileiros em situação de extrema pobreza estão no Nordeste e metade desta população (52,5%) vive na zona rural da região, um conjunto de  políticas públicas de combate à miséria e à fome devem ser pensadas para a população rural do Semiárido brasileiro. É neste pedaço do Brasil, que corresponde a 18,2% do território nacional, que a sociedade civil organizada e o governo se articulam para que as políticas públicas sejam, de fato, efetivas. Esta capacidade de articulação construída entre governo, sociedade civil e outros segmentos sociais, também foi reconhecida pelo PNUD como um elemento para o sucesso brasileiro na redução da miséria no país.
No Semiárido, há um conjunto de políticas públicas que reforçam a proposta de convivência com as características ambientais da região e se configura como uma rede de proteção social às famílias do território. Um dos pontos desta rede é o Programa Cisternas nas Escolas executado pela ASA desde o Piauí até Minas Gerais. “Os índices que apontam fragilidade na segurança alimentar do espaço rural do Semiárido não está só nos lares. Reproduz, na mesma forma, nas salas de aula e no pátio da escola, contribuindo para manutenção do processo de exclusão de direitos à população rural”, ressalta Rafael Neves, coordenador do Cisternas nas Escolas.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Icó-CE - Sociedade Civil e estudantes farão manifestação pública em favor da implantação do campus da UFCA

Instituições, estudantes, representantes e sociedade civil organizada do vizinho município de Icó estão programando uma grande manifestação pública em prol da implantação do campus da Universidade Federal do Cariri(UFCA) naquele município.

Ontem(31/08), alunos da UFCA e representantes de várias Instituições estiveram reunidos para organizar o evento. A reunião aconteceu na Escola Vivina Monteiro. Toda a sociedade está sendo mobilizada para participar desse acontecimento histórico.

O ato público acontecerá na próxima quinta-feira, dia 03 de setembro, à partir das 07:30h(manhã), com concentração inicial em frente ao escritório da UFCA, localizado à Avenida Idílio Sampaio. Alunos de todas as escolas do município, bem como, da Faculdade Vale do Salgado e UFCA, professores, diretores, pais, além da Maçonaria, Sindicatos e demais instituições estarão à frente do evento, que tem a intensão de defender a permanência da UFCA em Icó.

A sociedade icoense está revoltada com a atitude do poder público em não ter indicado, até agora, um terreno para a construção do Campus, especialmente com o DNOCS(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que dispondo de terrenos que preenchem todos os requisitos favoráveis à construção tem se negado a doar, utilizando argumentos que não têm convencido à sociedade.

O icoenses questionam a decisão do Dnocs e quinta-feira irão  percorrer as principais ruas da cidade, sob o comando de trios elétricos, para pressionar e gritar bem alto #liberadnocs.

O município tem até dezembro de 2015 para fazer a indicação de terrenos, se isso não ocorrer o dinheiro disponibilizado pelo MEC para a construção do Campus retornará à União e a Universidade terá que sair do município.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Icó-CE poderá perder campus da Universidade Federal do Cariri por falta de indicação de terrenos

O vizinho município de Icó corre o risco de perder a instalação do campi da Universidade Federal do Cariri-UFCA. Isso porque a prefeitura não indicou, até agora, terrenos para a construção do mesmo.

A Universidade está conversando com o DNOCS, vendo a possibilidade deste fazer a doação de um terreno localizado no Bairro Gama, daquele município, mas em Ofício emitido à Reitoria em 22 de junho de 2015, tornado público somente agora, foi informado a impossibilidade de doação por parte daquela Autarquia. O Diretor Geral, Engenheiro  Walter Gomes de Sousa, alegou que o terreno fica localizado dentro do perímetro irrigado Icó-Lima Campus  e que irá integrar a área de reserva legal, por este motivo a doação não é possível.

A Universidade está funcionando a pouco mais de um ano naquela cidade, em uma escola municipal localizada na Avenida Ilídio Sampaio. Na mesma Avenida está instalado o Escritório do IESA – Instituto de Estudos do Semiárido, integrado à Universidade.

A Universidade oferta atualmente o curso de Bacharelado em História com ênfases em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural e Gestão do Patrimônio Socioambiental, com duas turmas. Em 2016 será ofertado o curso de Gestão Pública.

Se a prefeitura de Icó não fizer a indicação de terrenos dentro do prazo estabelecido pelo MEC, ou seja até outubro, o campi será construído em outro município que dispor de terrenos para doação.

Alunos da UFCA estão se mobilizando nas mídias sociais contra a decisão do DNOCS. A intensão dos estudantes é mobilizar toda à sociedade e chama-la para fazer parte dessa luta. A construção do campus da Universidade em Icó trará benefícios imensuráveis para o município e toda a região que compreende o centro sul do Estado.  

A Universidade ainda não se pronunciou oficialmente sobre a decisão do Dnocs. 


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Água e terra para viver são lutas dos Povos Tradicionais do Semiárido

Mariana Reis* - Asacom
05/08/2015
Vazanteiros/asgerazeiros/as, quebradeiras de coco babaçu, quilombolas, indígenas, comunidades de fundo de pasto. Sobrevivendo entre os biomas do cerrado e da caatinga, esses povos tradicionais lutam pelo reconhecimento de seus direitos e pela defesa de seus territórios, enquanto reinventam um jeito de conviver com o Semiárido, em meio às adversidades, que são muitas. Além dos desafios próprios do clima – em muitos casos, com a escassez de acesso à água, devido à irregularidade de chuvas –, essas mulheres e homens precisam enfrentar dia após dia os grandes projetos de agronegócio e hidronegócio, que põem em disputa não só territórios, mas modos de vida.
Acesso à água em comunidade quilombola em Minas Gerais | Foto: Leo Drummond/Nitro Imagens/Arquivo Asacom
O acesso à água e à terra, assim, também fazem parte da peleja diária dessas comunidades. Terra para viver, e não apenas para o plantio, pois diferentes usos da terra também fazem parte da diversidade cultural dessas populações: além do espaço para a produção de alimentos, há outras reivindicações do uso da terra. As comunidades de fundo de pasto, por exemplo, compartilham um espaço voltado para a criação de animais de pequeno porte, especialmente caprinos. E é essa forma de viver, de forma coletiva, na contramão da monocultura, que essas comunidades vêm sobrevivendo ao longo das gerações.

Já as mulheres quebradeiras de coco babaçu, distribuídas nos estados do Pará, Piauí, Maranhão e Tocantins, além da agricultura familiar, complementam seus recursos a partir do extrativismo. A luta dessas mulheres, assim, é no sentido de garantir o direito ao acesso aos babaçuais, preservando o meio ambiente e também suas moradias. (Leia aqui entrevista completa com liderança do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB).

Água para beber como conquista – “A relação com a terra, com a pouca água existente e com os recursos naturais de modo geral é baseada no manejo e no cuidado sustentável, ou seja, as comunidades tradicionais têm com a natureza uma relação harmoniosa e não de degradação que leva ao esgotamento, como os grandes empreendimentos econômicos”, afirma Leninha Alves de Souza, da coordenação executiva da ASA pelo Estado de Minas Gerais. Para ela, o olhar além das estatísticas oficiais, atento às pessoas e à região, revela como as comunidades tradicionais enfrentam os desafios resultantes dos fracassos das políticas de desenvolvimento nos últimos 50 anos, principalmente com a política de combate à seca. 

Nas comunidades quilombolas e indígenas do Semiárido acompanhadas pelas organizações que compõem a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), de 2010 até hoje, já foram implementadas 3.668 tecnologias sociais de captação de água para consumo humano, sendo, desse número, 3.606 cisternas de primeira água e 62 cisternas escolares. 

Já as comunidades de fundo de pasto do Semiárido baiano acessam a água através das tecnologias sociais de captação e armazenamento de água da chuva, tanto para consumo humano, através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), como para a produção, por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Outra fonte de água para o consumo humano são os poços e cacimbas. Em alguns municípios, a exemplo de Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes, ainda existem comunidades que não possuem tecnologias apropriadas, prevalecendo ainda o acesso ao carro-pipa como fonte de água para diversos fins. O desafio para a ASA, nesses casos, é a busca pela universalização da primeira água, a partir da construção das cisternas de 16 mil litros.
Água para beber como conquista | Foto: Leo Drummond/Nitro Imagens/Arquivo: Asacom
Maria Aparecida Machado da Silva, quilombola, liderança comunitária e diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Chapada do Norte, em Minas Gerais, conta que uma das maiores dificuldades na sua região é o acesso à água.  “A água não é de qualidade. O esgoto é jogado no rio. Muitas pessoas adoecem com viroses. A água da torneira é escura. Além disso, o rio só tem bastante água nos períodos de chuva: na seca, ficam só as poças. Córregos e nascentes secaram e as comunidades mais afastadas são as que mais sofrem”, descreve a liderança.

Aparecida ainda relata que o problema de acesso à água na localidade é ainda maior nas comunidades quilombolas. “Com as cisternas de 16 mil litros do programa da ASA melhorou um pouco mais, as famílias usam menos a água do poço, que não é de qualidade. Mas precisamos conversar com mais famílias para garantir essa conquista”, revela.

“Uma das características fortes das comunidades do Semiárido é a solidariedade e reciprocidade existente entre as famílias. Por toda a vida estas famílias desenvolveram e vem desenvolvendo estratégias de sobrevivência marcadas fortemente pela pouca água existente nos territórios”, explica Leninha. 

A necessidade da cooperação também é trazida na fala de Aparecida: “A gente ainda não conhecia o histórico de muitas dessas comunidades, estamos conhecendo agora, a partir dos programas da ASA, das parcerias. Vamos conhecendo, nos aproximando, e a comunidade necessita disso porque muitas vezes o recurso e a assistência chegam ao município, mas não às comunidades. E os programas, quando chegam, valorizam nossos processos, buscam a integração com a comunidade, não trazem apenas a tecnologia em si”, enfatiza.

Reunião de comunidade de fundo de pasto | Foto: Arquivo IRPAA
Resistência a favor da vida
 – O reconhecimento enquanto comunidade é outra bandeira de luta desses povos tradicionais. De acordo com o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), organização que compõe a rede Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e que trabalha com comunidades de fundo de pasto nos territórios do Sertão do São Francisco e de Itaparica (BA), a certificação significa que o Estado reconhece o jeito e o modo próprio de viver dos povos tradicionais. Em relação às comunidades de fundo de pasto, a certificação é o primeiro passo para a regularização fundiária das áreas coletivas, anseio destas comunidades tradicionais que lutam pela garantia de permanência na terra e garantia do acesso a políticas públicas específicas para suas necessidades. 

Ainda segundo informações do IRPAA, na Bahia, apenas 144 comunidades estão certificadas, mas, de acordo com a Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA) existem 447 comunidades tradicionais de fundo de pasto. No entanto, a estimativa da Articulação Estadual de Fundo de Pasto junto com as entidades de apoio é de que existam aproximadamente mil comunidades com características de Fundo de Pasto.

Chapada do Norte (MG) conta com 75% de população quilombola, mas por causa da falta do reconhecimento oficial das comunidades, esse dado não é mensurado. “Temos a cultura muito forte, temos a Festa de Nossa Senhora do Rosário, mas as comunidades são agredidas com a desvalorização, com o preconceito comunitário”, relata Aparecida.

Para essas comunidades, as manifestações culturais e a religiosidade popular são formas de proteger uma identidade coletiva e de resistir aos impactos e efeitos de grandes projetos de desenvolvimento. É o que destaca Leninha. “Os conflitos socioambientais, principalmente os que têm a água como elemento de disputa, ameaçam a sobrevivência destas comunidades. Batuques de tambores, danças e rodas coletivas de manifestações culturais ecoam pelo Semiárido como forma de emanar uma resistência a favor da vida”, reconhece.

*Com a colaboração de Cristiana Cavalcanti, assessora técnica do Programa Cisternas nas Escolas
Fonte: 
http://www.asabrasil.org.br

sexta-feira, 31 de julho de 2015

O RIO SÃO FRANCISCO ESTÁ MORRENDO!

Não há água!
Acumulando agressões seculares, o Rio São Francisco passa pelo seu pior momento. Movimentos sociais pedem a revisão das autorizações para uso das águas
Ronaldo Eli* - ASACom

O Rio São Francisco está morrendo. A afirmativa, angustiante para milhares de comunidades e milhões de pessoas que vivem e convivem com o Velho Chico, baseia-se na situação verificada ao longo de toda a bacia, que banha cinco estados e mais de 500 municípios brasileiros. Em toda sua extensão, os baixos níveis, ou mesmo a inexistência de água, associam-se ao assoreamento do leito e à ausência de matas em um alerta quanto à falta de ações que respondam à degradação que é resultante da exploração desenfreada da bacia.
“O prognóstico que especialistas fazem é de que a morte do São Francisco é inexorável”, relata Roberto Malvezzi, militante da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP) e Comissão Pastoral da Terra (CPT). Segundo ele, as pesquisas mostram que os aquíferos (formação ou grupo de formações geológicas que pode armazenar água subterrânea) do Cerrado estão muito prejudicados pelo desmatamento. “No entorno do rio, a flora que existia, exuberante, alta, praticamente já desapareceu. Isso é visto como um sinal de que o rio está perdendo força”, explica. 


O que as informações acadêmicas indicam já está sendo sentido por todos e todas que vivem ao longo das margens. O efeito mais simbólico foi a interrupção do curso da nascente histórica, localizada no Parque da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, Minas Gerais. O fenômeno, que nunca tinha sido registrado antes, durou dois meses, e serviu para chamar a atenção para a gravidade da situação.
Com as chuvas das últimas semanas, a nascente brotou novamente. Mas ao longo do curso do rio pouca
Alice Pescadora: "É preciso fazer muito por esse rio." (Foto: Arquivo Pessoal)
coisa mudou. Maria Alice da Silva, 58, é pescadora e vive em Juazeiro. Segundo ela, o retorno da nascente traz esperança, mas não é suficiente: “Deu uma chuvinha e entrou um pouco de água. Antes da chuva a gente estava quase atravessando para Pernambuco a pé. A gente ia até mais do que o meio do rio com água pela cintura. A gente se animou mais com a notícia de que na nascente começou a brotar uma aguinha, mas é preciso fazer muito por esse rio”.
Convivência ribeirinha - Conhecida como Alice Pescadora, profissão que herdou do pai e do avô, ela cresceu convivendo com o São Francisco. Bebia de suas águas, e delas também tirava o alimento. Falando sobre a situação atual, ela demonstra tristeza e preocupação: “Destruição, desmatamento, as agressões que vêm sendo praticadas através das grandes empresas, transposições, é muita água que tiram desse rio sem as empresas terem a mínima preocupação em revitalizar, em repor o que eles tiram. Ao menos desassorear! Tiram a água, mas deixam o assoreamento”.

A pescadora conta que, devido à escassez de lugares para pescar, foi criado um sistema de revezamento com fichas: “Uma pessoa vai, 15 minutos depois vai outra”. Alice luta pela regularização dos territórios pesqueiros e pela revitalização do rio. “A gente que é pequeno tem muita força pra lutar, mas se sente impotente quando a gente luta e vê que o governo vai passando por cima como um rolo compressor”, lamenta.
José Acácio Sobrinho, de 80 anos, avalia que “a tendência é baixar mais com essas barragens e esses canais que estão abrindo. Não entra água, nem peixe.” Nascido e criado na aldeia Xocó da ilha de São Pedro, no município de Porto da Folha (SE), o indígena foi canoeiro por vinte anos, e se lembra do rio cheio e com muitos peixes, cujas enchentes permitiam inclusive o plantio de arroz.

“O tempo foi passando, e o rio foi baixando, com as barragens, e agora até para os barcos é uma dificuldade”, lembra Sobrinho. Membro da mesma aldeia, Anísio Xocó, 27, pescador, enfrenta muitas dificuldades para conseguir seu sustento: “Para pescar tem que esperar um dia e uma noite quando, na verdade, há dez anos atrás a gente saía e enchia o barco dentro de meia hora. A gente escolhia o peixe que queria vender, o que queria comer, o que queria pegar. Hoje, é o peixe que nos escolhe. Aqui a 
Anísio (esquerda) e Zuza, da aldeia Xocó da Ilha de São Pedro (fotos: Daniela Bento)
gente não tem mais rio, a realidade é essa. Se existir rio São Francisco é das represas, das barragens, pra lá. Aqui na frente de nossa aldeia ainda é um dos pontos mais largos que ele tem. Ainda assim, se você andar, chega em Alagoas caminhando.”

Transposição - População ribeirinha e comunidade científica apontam os mesmos fatores de degradação como causas do enfraquecimento da bacia. Em ambos os casos, o projeto de transposição das águas também aparece como um agravante. Alice vê incoerência nas afirmações de que o volume de água retirado do rio é insignificante: “Eles dizem que vão tirar o mínimo de água, mas já tem esse problema com tanta retirada de água pelas empresas pelo agronegócio. Nós, que vivemos na beira do rio, muitas vezes precisamos de carro-pipa.”
“O São Francisco não tem a mínima condição de fornecer os volumes que estão querendo tirar dele para abastecer 12 milhões de pessoas no nordeste que estão sedentos e, ainda por cima, irrigar 260 mil hectares, como diz o projeto da transposição. Isso fisicamente é impossível, porque o São Francisco é um rio de múltiplos usos”, explica João Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador. Segundo ele, o rio já irriga 360 mil hectares ao longo de sua bacia, e produz 95% da energia consumida na região Nordeste. Somar a isso a demanda da transposição seria demais.
Roberto Malvezzi destaca que a degradação da bacia é um processo que vem ocorrendo desde o século 19, quando as margens eram desmatadas para alimentar os barcos a vapor, e o que se vê hoje é o resultado desse processo somado à chegada do agronegócio, das barragens, e dos dejetos urbanos e industriais. As agressões revelam um quadro de injustiça social: “A demanda contínua da água acaba sendo um privilégio das grandes empresas que podem captar muito dessa água e pagam muito pouco por ela. E essa água evidentemente faz falta para populações para as quais você teria que fazer adutoras, captação de água inclusive para abastecimento urbano ao longo do Vale do Rio São Francisco, o que caracteriza uma injustiça social e ambiental.”
A escassez gera conflitos. De acordo com a CPT, em seu relatório “Conflitos no Campo Brasil 2013”, houve um aumento de 32% no número de casos envolvendo disputas por água no país. Ao longo do São Francisco eles se manifestam de muitas formas. Alice conta que, em sua região, eventualmente alguma empresa tenta cercar as margens do rio, mas é impedida pela Marinha. “Tem as captações das grandes empresas, e ali você não pode circular, porque quem comanda é o agronegócio”, diz.

Articulação apresentou pedido de moratória ao Ministério Público Federal em várias cidades da Bacia do São Francisco
Moratória - Diante da situação, agravada pela estiagem dos últimos anos, a Articulação Popular São Franscisco Vivo protocolou nos escritórios do Ministério Público ao longo da bacia um pedido de Moratória do Rio São Francisco. “A moratória pede que sejam revistas as outorgas de uso da água, e que sejam impedidas novas outorgas”, diz Érica Daiane Costa, articuladora regional que acompanha o processo na região do submédio São Francisco.
“A articulação vem nesse processo de denunciar a situação do rio, a degradação de águas, se baseando também em outros movimentos sociais que há mais de 20 anos vem trazendo à tona toda essa realidade.  Todos que dependem direta e indiretamente do São Francisco vêm fazendo esse debate a partir de algumas linhas, principalmente essa questão dos grandes projetos, que é a coisa que mais contribui com a degradação do São Francisco”, relata a articuladora. “Com o agravamento da situação, a gente pensou na moratória como uma medida para mexer mais nessa linha jurídica. Por isso ela foi protocolada em todos os ministérios públicos federais da bacia, em uma tentativa de dar uma visibilidade maior. É um momento de desespero, de recorrer ao que ainda não tinha sido tentado.”
Para a Articulação, é preciso repensar o uso da água. Não dá para falar em transposição, ou em novos usos da água e do rio, sem realizar a revitalização da bacia. Érica lembra que “em 2007 o governo lançou um projeto de revitalização do rio com recursos do PAC1, e depois do PAC2, e uma das coisas principais desse projeto, além de recuperação das margens, replantio de matas, é a questão do saneamento básico. Infelizmente isso não vem sendo cumprido.”

Filosofia predatória - Enquanto isso, fala-se na construção de uma hidrovia, e no uso de águas da Bacia do Rio Tocantins para garantir a viabilidade do projeto de transposição em curso. “É uma filosofia predadora, no sentido de que você destrói os mananciais que estão próximos, e depois vai buscar água mais longe, como se lá não fosse haver depredação e como se o Tocantins também não fosse um rio do cerrado. Aos poucos, você vai comprometê-lo também”, analisa Roberto Malvezzi.
Alice Pescadora não se dá por vencida. Ela acredita na ação comunitária, mas reivindica o apoio dos órgãos de fiscalização: “Eu tenho esperança que um dia as pessoas se conscientizem. Quem trabalha mais nessa questão da preservação são os pequenos pescadores, pequenos agricultores, que plantam sua mandioca, seu feijão pra comer. A gente é que vai, sai atrás de mudas para o replantio de matas ciliares, e enquanto a gente tem todo o sacrifício, aí vem outro fulano que tem terra, que desmata e joga os barrancos na beira do rio. É uma coisa que merece uma fiscalização grande por parte das pessoas do poder. A gente que é pequeno, sozinho, não pode. Se chegar e dizer que não pode fazer, é arriscado até querer nosso pescoço.”

FONTE: www.asabrasil.org.br

terça-feira, 7 de julho de 2015

CANGACEIROS: HERÓIS OU BANDIDOS?

 O Cangaço foi um fenômeno social que ocorreu no Nordeste brasileiro, tendo seu início, segundo historiadores, em meados do século XVIII, sendo extinto no ano de 1940, século XX, com a morte do último líder Cristino Gomes da Silva Cleto, vulgo Corisco. O primeiro cangaceiro a chefiar um bando teria sido o Jesuíno Alves de Melo Calado, O Jesuíno Brilhante, natural do Rio Grande do Norte, agindo na Paraíba e em terras potiguar.
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião e sua companheira Maria Bonita
(foto original. Fotógrafo Benjamim Abrahão

Segundo o professor José Romero de A. Cardoso, em uma matéria que escreveu para o Jornal “Diário do Nordeste”, publicada em 03 de fevereiro de 2007, Jesuíno Brilhante nasceu no ano de 1844, em Patu, Rio Grande do Norte, fez-se chefe do Cangaço devido a intrigas com a família Limão, que era protegida por potentados rurais das províncias da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Ele agiu nessas terras quando o escravismo ainda era vigente no Brasil e a seca dominava. Para o professor José Romero, Jesuíno era considerado pelas classes menos favorecidas uma espécie de herói, por saquear cargas com alimentos provenientes do governo imperial e dividi-las com os pobres. Mas o professor não nega o envolvimento de Jesuíno Brilhante com os coronéis locais, que o acoitaram principalmente no episódio em que o mesmo invadiu a cadeia pública da Paraíba para resgatar seu pai e irmão, alguns coronéis teriam o apoiado nesse feito.

Mas, o fenômeno *[1]cangaço teve seu auge em meados do século XIX às primeiras décadas do século XX. Para alguns pesquisadores esse acontecimento foi impulsionado pelo péssimo momento político que o País vivia, refletindo na condição de miséria social e econômica que o Nordeste, bem como todo o País, estava submetido. A situação do Nordeste, naquela época, era considerada mais grave devido às longas secas, fenômeno cíclico que assombra a Caatinga ainda hoje. Outro ponto considerado por alguns historiadores é o deslocamento do centro dinâmico da economia brasileira para o Sudeste, onde estavam concentradas as fazendas de café, deixando à margem a maioria absoluta dos nordestinos, que sem emprego se viam diante de dois caminhos: A revolta e a Fé.

Os nordestinos nunca negaram sua fé, até mesmo os cangaceiros que se dividiam entre o rifle e o rosário. Eles sempre faziam suas orações. E de alguma forma lutavam em nome do deus deles.

Nos últimos anos do regime imperial (1877-1879), onde os coronéis mandavam e desmandavam no Sertão, a fome e a miséria agravou-se ainda mais, a seca castigava. E foi nesse cenário, no sertão do Nordeste, que o Cangaço se manifestou em sua forma mais intensa. Não era apenas um bando, mas vários bandos se formaram e passaram a atuar com o sentimento de vida e morte, matar ou morrer, não de fome, de fraqueza, mas na guerra, a guerra justa para eles, onde através dela se vingavam da seca e dos potentados rurais que comandavam esse “Sertão véi de meu Deus”.

[2]Para os historiadores três grupos de cangaceiros distintos teriam se formado no sertão: O Defensivo, que prestava serviços aos latifundiários protegendo suas fazendas de ataques indígenas e rebeliões; O Político, que era expressão de poder dos fazendeiros e atuavam em casos onde ocorria desavenças entre famílias poderosas da época, principalmente em disputas pela posse de terras; E o Independente, que não se subordinava a nenhum chefe local; tinha como líder um homem do próprio povo, um bandido social, como o Lampião, independente dos chefes locais. Embora pesquisadores afirmem que Lampião, considerado “o “rei” do cangaço manteve envolvimento direto com os coronéis, mesmo assim possuía características peculiares: apoiava para ser apoiado, protegia e era protegido por estes, essa relação de força possuía o mesmo peso.

[3]Para o Historiador britânico Eric Hobsbawm há diferenciação entre o bandido social e o bandido comum, configurando-se o bandido social aquele que consegue aderir apoio popular devido suas práticas sociais.

É inegável que o cangaço deixou importantes contribuições para o nordestino, um legado inserido na nossa cultura, sendo parte da nossa identidade. Além da peculiaridade em vestir-se, através das indumentárias bem produzidas, dos gibões e chapéus de couros, herança dos vaqueiros antigos, que segundo pesquisadores foram jagunços dos coronéis e posteriormente cangaceiros, deixaram também a dança, o xaxado, que foi criada pelos bandoleiros de Lampião, que ao festejar suas vitorias sobre os inimigos expressavam-se pisando com suas sandálias de couro no chão seco da caatinga produzindo um som singular, apoiados das suas inseparáveis espingardas.

O xaxado é originário do termo “xaxar o feijão”, “vamos xaxar o feijão?”, ou seja, retirar o capim ao redor da planta. Inicialmente era uma dança tipicamente masculina, quando as mulheres ainda não tinham sido inseridas no cangaço, estas passaram a integrar o bando a partir de 1930, com Maria Bonita, a primeira mulher a entrar para um bando de cangaceiros; a mesma ganhou o título de rainha do cangaço por ser a companheira de Lampião. Hoje, o xaxado é uma dança cultural que se popularizou no Brasil inteiro. Um orgulho nacional.

[4]Para o professor Durval Muniz de Albuquerque Junior em “A invenção do Nordeste” o cangaço também legou aos nordestinos ideias de “macheza, violência e valentia”, afirmando que esse é um traço característico do nordestino, que teria fundamentado sua personalidade e ajudado na construção de um Nordeste diferenciado dos demais estados brasileiros.

“O cangaço vai marcar o Nordeste e o nordestino com o estereótipo da ‘macheza’, da violência, da valentia, ‘do instituto animal’ do assassino em potencial. Motivo de orgulho e de vaidade para os setores tradicionais, notadamente para os camponeses da região, o elogio do cangaço servirá para estigmatizar o homem pobre e vindo do meio rural do Nordeste, especialmente quando chega nas grandes cidades do Sul. Estereotipá-los como homens primitivos, bárbaros, alheios à civilização e à civilidade, que, embora fossem homens comuns, escondiam uma fera pronta a se revelar, ‘as vezes nem pareciam gente’. O Nordeste seria a terra do sangue, das arbitrariedades, região da morte gratuita, o reino da bala, do Parabelum e da faca peixeira.”

O Cangaço inspirou muitos intelectuais nacionais, artistas que compuseram músicas, produziram filmes, escreveram livros, alimentando o imaginário popular. Destaque para os cordelistas que retrataram na literatura, assim como outros artistas, os cangaceiros-heróis.  Mas essas manifestações artísticas ultrapassaram as barreiras do nosso País. O jornal americano New Yorque Times chegou a comparar Lampião a Robin Hood, legando ao capitão Virgulino Ferreira da Silva o título de defensor dos pobres. O cangaço chegou a ser comparado aos filmes americanos e italianos de faroeste, muito popular na época.

[5]Para o pesquisador e professor brasileiro Luiz Bernardo Pericás, “nunca houve qualquer intenção de mudança social por parte dos cangaceiros, só no cinema e literatura, ou seja, em obras de ficção. Obras, em geral produzidas a posteriori”, eles não possuíam ideais revolucionários, por este motivo não podem ser tratados como heróis.

“(...) O cangaço acabava se tornando um meio de vida, no qual por anos seguidos, indivíduos cometiam crimes como torturas, sequestros, estupros, roubos e assassinatos. E cometiam essas atrocidades indistintamente, tanto como alguns coronéis, como também contra policiais e contra o próprio ‘povo’ pobre local. Há muitos relatos cometidos por Lampião, Zé Baiano e outros contra trabalhadores, ‘cassacos’, ‘agricultores’,gente comum do povo, sem nenhuma piedade ou remorso”.(PERICAS. 2012. Caderno do Tempo Presente – ISSN: 2179-2143).

Para Pericás, Lampião preferia manter relações com os coronéis e líderes políticos, do que com gente simples do povo, deles recebiam proteção, armamento, comida e presentes. Na entrevista concedida ao “Cadernos de Estudos do Tempo Presente” Pericás enfatiza a emblemática relação entre Lampião e o então deputado do Estado do Ceará Floro Bartolomeu e o Prefeito de Juazeiro, Padre Cícero Romão Batista, quando estes convocaram o líder e seu bando para compor o “Batalhão Patriótico” contra a “Coluna Prestes”. Outra versão diz que Lampião compareceu espontaneamente e ofereceu ajuda ao “Padin Ciço”.    
 
A relação de Lampião era intrínseca com o Padre. Foi através deste, que o Cangaceiro permitiu que o fotógrafo sírio-libanês-brasileiro, Benjamim Abrahão Calil Botto, que havia sido secretário do padre Cicero, o acompanhasse durante dois anos, onde este produziu um grande número de fotografias e imagens, mostrando o dia-a-dia de seu bando, embora reste hoje em dia apenas 14 minutos de gravação, tendo sido destruída a maior parte pelo Estado Novo.

A contribuição de Benjamim Abrahão para a difusão do conhecimento sobre o cangaço é considerada muito significativa, embora essas mesmas fotografias e imagens audiovisuais tenham contribuído diretamente para a disseminação do bando de Lampião e posteriormente o fim do Cangaço na região. O próprio Benjamin foi morto com várias facadas. Uma morte até hoje não esclarecida. Alguns historiadores atribuem a morte de Abrahão à gravação daquelas imagens. O “Estado Novo” liderado pelo ditador Getúlio Vargas teria considerado uma afronta a divulgação do material imagético.

A perseguição aos cangaceiros ganhou força a partir da década de 1930, quando órgãos de repressão mais atuantes e profissionalizados foram estabelecidos. A ordem era acabar com todos os bandos de cangaceiros, se os mesmos não se rendessem. Alguns que se renderam foram mortos.

Pesquisadores contemporâneos têm levantado muitos questionamentos e buscado respostas a respeito do fenômeno cangaço no Nordeste. Alguns chegam a comparar o banditismo ao tráfico de drogas nas grandes metrópoles, enfatizando que a herança dos bandoleiros em uma escala linear foi estendida às cidades contemporâneas brasileiras. [6]A antropóloga e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros e autora do livro “A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão” aponta semelhanças entre o método de ação dos bandoleiros e dos traficantes: “A maioria dos moradores das favelas de hoje não é composta por marginais. No sertão, os cangaceiros também eram minoria. Mas, nos dois casos, a população honesta e trabalhadora se vê submetida ao regime de terror imposto pelos bandidos, que ditam as regras e vivem à custa do medo coletivo”. Comparação esta que diverge da opinião de Jaime Pinsky, para o historiador e professor fazer essa comparação é cometer o erro historiográfico do anacronismo.

Os cangaceiros e aquele considerado “Rei”, Virgulino Ferreira da Silva, continuarão no imaginário popular. Para alguns heróis, defensores do povo pobre num Sertão castigado pela seca e pelos coronéis; para outros, bandidos, talvez esse seja o maior fascínio de Lampião, o maior fascínio do fenômeno denominado Cangaço: Aqueles homens pobres do povo que provocava medo nos coronéis, que coagidos preferiam ajuda-los ao invés de combate-los, por isso a admiração do povo, que sentia-se representado, os admiravam pela bravura e audácia em que submetiam os poderosos da época.

OBS.: Este artigo foi escrito pelos estudantes do segundo semestre do curso de B. em História, disciplina: "História do Ceará" da Universidade Federal do Cariri, Campus-Icó. A equipe composta por Matheus Brasil, Thobias Amaro e Vera cavalcante foi orientada pelo Prof. Rodrigo Capistrano.
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* Cangaço vem de canga, uma peça de madeira utilizada nos muares para transportar objetos, alimentos, etc. Os cangaceiros receberam esse nome devido ao grande número de objetos que carregam no próprio corpo, chegando até 20 quilos.
[2] JUNIOR, Antônio Gaspareto. O Cangaço. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/o-cangaco/>. Acesso em: 27 de junho de 2015, às 11h09min.
[3] FILHO, Vagner Silva Ramos. Memórias do Cangaço na Cultura Popular Cearense: Cangaceiros Sobrevivem no Imaginário Nordestino. Graduando de História Pela Universidade Federal do Ceará.
[4] ___________________. Memórias do Cangaço na Cultura Popular Cearense: Cangaceiros Sobrevivem no Imaginário Nordestino. Graduando de História Pela Universidade Federal do Ceará.
[5] CADERNOS DO TEMPO PRESENTE. Um olhar sobre o Cangaço. Sergipe. Edição n. 04-04 de julho de 2012. ISSN: 2179-2143.
[6] NETO, Lira. Lampião: o Dragão da Maldade. Disponível em: <guiadoestudante.abril.com.br>. Acesso em: 28 de junho de 2015, às 14:00h.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

CAATINGA, Patrimônio da Humanidade

"Patrimônio não se define pela natureza dos objetos que o constitui, mas pela modificação que se opera na consciência social no momento em que determinada categoria de objetos passa para outro mundo separado do cotidiano, gerado por regras de manutenção e de veneração específicas." (Jacques Leenhardt).

OBS.: Esse texto foi impresso em forma de folder(material informativo)e apresentado à turma do segundo semestre do curso B. em História, disciplina: "Introdução à História do Patrimônio" da Universidade Federal do Cariri, Campus-Icó, no dia 24 de junho de 2015. A equipe composta por Matheus Brasil, Thobias Amaro e Vera cavalcante foi orientada pelo Prof. Jucieldo Alexandre.

Figura 1 foto de Thobias Amaro; Rio Salgado, Icó-CE, em 23/04/15


A nossa Caatinga(floresta branca) ocupa 850 mil Km2, cerca de 11% do território do País, sendo um Bioma exclusivamente brasileiro. A vegetação nativa é caracterizada pela paisagem esbranquiçada decorrente da ação das secas constantes nessa região semiárida, mas principalmente pela ação do homem, provocando desmatamentos irregulares e uso excessivo dos recursos naturais.

O corte de lenha ainda é uma das principais atividades dos moradores da Caatinga. A indústria da cerâmica e do gesso instalada em 101 dos 184 municípios cearenses contribuem para a degradação desse importante ecossistema.

Por conta do desmatamento e queimadas a Caatinga possui atualmente 18.743,5 km2 de área degradada, ou seja quase 70% de seu território.

Para o agricultor icoense Isaias Nicolau, “existem na região muitos agricultores que usam a queimada, enfim, derrubando e empobrecendo o solo para plantações de milho e feijão, e sabemos que isso é ilegal, e de certa forma agride o meio ambiente.”(Isaias Nicolau, 30a, agricultor, Conj. Gama, Icó-CE. A entrevista foi realizada no dia 10 de abril de 2015).

FAUNA da Caatinga: onça pintada, ararinha-azul, tatu-peba, tatu-bola, preá, asa branca, cachorro do mato, gato do mato, veado-catingueiro, cutia, gambá, dentre outros, alguns ameaçados de extinção.

Principais representantes da FLORA: aroeira, juazeiro, amburana, angico, jurema e o mandacaru.

A UNESCO reconheceu em 2001 a Caatinga, como reserva da biosfera, com o objetivo de promover ações voltadas para proteção e interação com esse importante ecossistema, exclusivamente brasileiro, que abriga mais de vinte milhões de pessoas e uma diversidade de espécies de plantas e animais endêmicos.

Duas das poucas áreas preservadas dessa imensa floresta branca são os parques nacionais da serra da Capivara e serra das Confusões, localizados no Estado do Piaui.  A caatinga naquelas localidades é mais valorizada pela importância arqueológica, do que pela paisagem, atraindo cientistas, pesquisadores e curiosos de todas as partes do mundo. No entanto, a caatinga vai muito além desses dois importantes parques nacionais.

Menos de 1% da caatinga está sob proteção ambiental. A degradação desse bioma causa um desequilíbrio, que atinge diretamente à vida humana, em diversas áreas, uma vez que tendo seu habitat destruído as espécies animais invadem as áreas urbanas, transformando-se em vetores de doenças, no caso de várias espécies de mosquito.

Os ambientalistas alertam: A CAATINGA PODE DESAPARECER, se não houver políticas públicas que subsidiem programas de proteção e prevenção para tornar esse bioma sustentável.

Biodiversidade: espécies de plantas e animais da Caatinga.
Plantas
Peixes
Répteis e Anfíbios
aves
mamíferos
1.512
240
167
510
143

Fontes de pesquisa: www.mma.gov.br/, wikipédia, www.google.com.br, http://www.recaatingamento.org.br/ Fotos: nagaishicaatinga.blogspot.com.br revistaepoca.globo.com, educacao.globo.com, http://www.turismo.pi.gov.brhttp://tvbrasil.ebc.com.br/. http://planetasustentavel.abril.com.br/.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Sociedade diz NÃO ao fim da rotulagem de alimentos transgênicos

Proposta que segue para o Senado teve repúdio de mais de 100 organizações; população brasileira pede cumprimento ao direito à informação sobre o que está consumindo.

Saber se um produto contém ou não ingredientes transgênicos - um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor e já aplicado à maioria dos produtos hoje disponíveis no mercado - corre o risco de ser extinguido caso o Projeto de Lei 4148/08, do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), passe no Senado, após já ter sido aprovado pela Câmara dos Deputados em abril deste ano.
 
MANIFESTE-SE CONTRA A PROPOSTA AQUI
 
Diante da situação que ameaça o direito dos consumidores de todo País, uma mobilização nacional que já conta com mais de 100 entidades, encaminhou uma carta ao Senado Federal e a autoridades como o Ministério da Justiça, Ministério da Agricultura, Ministério Público Federal e Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), pedindo que o PL não seja aprovado.
 
Além de se contrapor ao direito do consumidor à informação sobre os alimentos que consome, a iniciativa também ignora a vontade popular. Segundo diversas pesquisas de opinião, os brasileiros querem saber se um alimento contém ingredientes transgênicos ou não (74% da população IBOPE, 2001, 71% IBOPE, 2002, 74% IBOPE, 2003, e 70,6% ISER, 2005). Desta forma o PL pode ser classificado como antidemocrático.
 
Longe de atender interesses dos consumidores ou aprimorar a Lei que já discorre sobre a necessidade de rotulagem obrigatória, a medida pode facilitar a venda de alimentos transgênicos ao consumidor final, que, sem o direito à informação, não terá certeza sobre a composição do alimento que está comprando, prejudicando seu poder de escolha. O Idec entende que a oferta de alimentos transgênicos  sem o conhecimento do consumidor pode contribuir para aumentar o uso dos OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) nos produtos, sem ponderar os riscos à saúde ao qual o consumidor pode estar exposto.
 
Confira  abaixo as organizações signatárias da carta enviada ao Senado Federal e às autoridades e assinada em nome do FNECDC (Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor), Brasilcon (Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor) e ProconsBrasil (Associação Brasileira de Procons):
 
ActionAid Brasil
Agroecologia, Permacultura e Campesinato - TXAI
Articulação de Agroecologia da Bahia – AABA
Articulação de Agroecologia do Sertão do São Francisco
Articulação dos Empregados(as) rurais - ADERE
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME
Articulação Nacional de Agroecologia - ANA
Articulação no Semiárido Brasileiro - ASA
Articulação no Semiárido Paraibano – ASA Paraíba
Articulação no Semiárido Pernambucano – ASA Pernambuco
Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais
AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia
Associação Brasileira de Agricultura Biodinamica
Associação Brasileira de Agroecologia - ABA
Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal - ABEEF
Associação Brasileira de PROCONS - PROCON BRASIL
Associação Brasileira de Saúde Coletiva - ABRASCO
Associação Comunitária Mantenedora Escola Família Agrícola de Sobradinho - AMEFAS
Associação Cunhambebe da Ilha Anchieta
Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região - ANC
Associação de Agricultura Orgânica - AAO
Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo - APqC
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural -Agapan
Associação Nacional de Agricultura Camponesa
Associação Sitio Escola Portão Grande
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Cáritas Brasileira Regional Piauí
Cáritas Diocesana de Sobral – CE
Casa da Mulher do Nordeste
Central do Cerrado
Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativos – CAATINGA
Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
Centro de Desenvolvimento Agroecoógico Sabiá - Centro Sabiá
Centro de Educação Comunitária Rural – CECOR
Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador – CETRA
Centro de Pesquisa e Assessoria – ESPLAR
Centro Dom José Brandão de Castro – CDJBC
Centro Feminista 8 de Março
Centro Indigenista Missionário - CIMI
Comissão Pastoral da Terra - CPT
Comissão Territorial de Revitalização da Batata Agroecológica na Região da Borborema – Paraíba
CONSEA Sorocaba, Conselho de Segurança Alimentar de Sorocaba
Conselho de Segurança Alimentar e Nutrição de Jundiaí - CONSEA-JD
Conselho Federal de Nutricionistas - CFN
Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Jundiaí -CMDR
Consulta Popular
Cooperativa dos Produtores Rurais Entre Serras e Águas
Cooperativa Grande Sertão
Cooperativa Mista de Produção Camponesa - CPC
Cooperativa Mista de Produção, Comercialização e Industrialização de Biocombustíveis e Produtos Agropecuários do Brasil - Oestebio
Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombola - CONAQ
Coordenadoria Ecumênica de Serviço - CESE
Entidade Nacional de Estudantes de Biologia - ENEBio
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil - FEAB
FETRAF Brasil
Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - FBSSAN
Fórum de Agricultura Familiar da Região de Sorocaba
Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – Fundação APAEB
Grupo CoCriação Alimentação e Sustentabilidade
Grupo de Articulação Regional da Feira de Orgânicos de Sorocaba - GARFOS
Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental - GERMEN
Instituto Akatu
Instituto Brasileiro de Agricultura Biológica
Instituto de Permacultura da Bahia – IPB
Instituto Gondwana
Instituto Kairós
Instituto Polis
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA
Levante Popular da Juventude
Marcha Mundial de Mulheres – MMM
Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste – MMTR/NE
Movimento de Mulheres Camponesas - MMC
Movimento de Organização Comunitária – MOC
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA
Movimento dos Pescadores e Pescadoras - MPP
Movimento dos trabalhadores e trabalhadoras do campo MTC Brasil
Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra - MST
Movimento GEraizeiro
Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
Movimento Nacional de Direitos Humanos - MNDH
Movimento Nacional Pela Soberania Popular Frente à Mineração - MAM
NACE Pteca - Nucleo de Cultura Extensao da ESALQ-USP
Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã, da UFSCar Sorocaba - NAAC
Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar no Semiárido Nordestino - Núcleo Sertão Verde
Núcleo de Educação Infantil Jardim do LIVRE SONHAR
Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPAS/UFRPE
Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições - NUPPRE-UFSC
Núcleo de Pesquisa e Estudos Sertão Agroecológico/Univasf
OCS Jundiaí Orgânicos
Pastoral da Juventude Rural - PJR
Plataforma de Apoio à Agricultura Orgânica no município de São Paulo
Polo Sindical da Borborema – Paraíba
Rede ATER Nordeste
Rede das Escolas Familias Agrícolas Integradas no Semiárido – REFAISA
Rede de Agroecologia de Pernambuco
Rede de Defesa e Promoção da Alimentação Saudável, Adequada e Solidária - REDE SANS
Rede de Grupos de Agroecologia – REGA
Rede de Intercâmbio de Sementes da Microrregião Norte do Ceará
Rede Grupos de Produção e Resistência
Rede Sergipana de Agroecologia – RESEA
Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo
Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais - SASOP
Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do estado de São Paulo - SINTAEMA/SP
Slow Food Brasil
SOS Mata Atlântica
Terra de Direitos
Uniao das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidaria de Minas Gerais - UNICAFES/MG
União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária - Unicafes
União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias - Unicopas
Vazanteiros em Movimento
VERDE VIVO Associação de Produtores Orgânicos da Mantiqueira
Via Campesina Brasil.

Fonte: asabrasil.org.br